Embrenhar-se em Clarice é entrar na mata densa e íngreme da natureza humana. No diacho da natureza humana. E, como a existência do bicho humano não é café pequeno, estamos falando de uma areia movediça: em Clarice não há porto seguro, não há "felizes para sempre". Ao contrário, há um fio de navalha do gênero com licença, vou ali morrer um pouco e já volto, mais ou menos por aí.
Com uma espécie de radar supersônico - super tudo - ela disseca microscopicamente "o é das coisas", os recônditos do ser, a poeira debaixo do tapete. Disseca e ao mesmo tempo vivifica. Insufla graça e fortaleza nas coisas que observa.
A sua ótica é uma lupa generosa e corajosa com a qual ela examina as coisas, as pessoas, a si mesma. Por isso, os adjetivos - ela inventa adjetivos - não vêm só para adjetivar. Eles cortam a coisa descrita como que a golpes de foice, para deixá-la em carne viva nas mãos do leitor.
A sintaxe de Clarice radiografa a existência. Tudo passa pelo raio-x da palavra e é devolvido ao mundo de forma poética. Mas de jeito nenhum uma poética virgem. Uma poética, ao contrário, espinhenta, afiada, feroz e dona de si. Por isso, magistral: o supra-sumo da arte de intermediar o mundo.
Os fantasmas internos , o puro e o podre de todos nós são descritos com monstruosa precisão e força. Latejam vivas no texto a dor e a delícia de ser. E, para piorar e melhorar, ela vai além, falando de uma dor deliciosa e de uma delícia dolorida.
Clarice mira em alvos intangíveis e acerta em cheio. Por que, de fato, a pessoa é para o que nasce. Exatamente.
Com uma espécie de radar supersônico - super tudo - ela disseca microscopicamente "o é das coisas", os recônditos do ser, a poeira debaixo do tapete. Disseca e ao mesmo tempo vivifica. Insufla graça e fortaleza nas coisas que observa.
A sua ótica é uma lupa generosa e corajosa com a qual ela examina as coisas, as pessoas, a si mesma. Por isso, os adjetivos - ela inventa adjetivos - não vêm só para adjetivar. Eles cortam a coisa descrita como que a golpes de foice, para deixá-la em carne viva nas mãos do leitor.
A sintaxe de Clarice radiografa a existência. Tudo passa pelo raio-x da palavra e é devolvido ao mundo de forma poética. Mas de jeito nenhum uma poética virgem. Uma poética, ao contrário, espinhenta, afiada, feroz e dona de si. Por isso, magistral: o supra-sumo da arte de intermediar o mundo.
Os fantasmas internos , o puro e o podre de todos nós são descritos com monstruosa precisão e força. Latejam vivas no texto a dor e a delícia de ser. E, para piorar e melhorar, ela vai além, falando de uma dor deliciosa e de uma delícia dolorida.
Clarice mira em alvos intangíveis e acerta em cheio. Por que, de fato, a pessoa é para o que nasce. Exatamente.
4 comentários:
Muito perfeitoo!
Parabéns por tua sensibilidade em notar pequenos detalhes... Detalhes que não vemos. Sentimos!
Amei o texto!
Bjão,
Daiane
...muito me adimira...já q falou da gloriosa Clarice vou prestar mais atenção...A Clarice nunca conformou-se com uma vidinha e sim em viver de verdade...
mto bom
Olá! Cheguei até aqui pela indicação da Daiane Braghin. Tens uma sensibilidade linda, escreve sem amarras, dá pra sentir. Me chamou a atenção a tua formação: mestre em Letras pela UFRGS. Parabéns!
Adorei "te ler"!
Beijos!
*
Nathália Hecz
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