Sábado:
O cenário é um hospital psiquiátrico. A platéia, formando uma arena, é parte do elenco também. Todos são internos. Todos tem piolhos. Todos deliram. Todos aguardam o doutor. A moça dos “vapores” libertinos, a que matou o marido, a que recita um autor inventado. A platéia faz intervenções que são diagnosticadas como histéricas pela enfermeira-inspetora-madre superiora ou coisa assim ou tudo isso. Todas as mulheres ali se identificam e se solidarizam com as internas e seus sintomas. Alguns da platéia se perguntam: “será que devo internar-me quando sair daqui?” “Será que também usarei o machado algum dia?” “Os coitos politicamente incorretos são um indício de desvio?”
A linha de demarcação sanidade-loucura é tênue, quase inexistente. As duas coisas se camuflam. Na sobrecarga de sensações que cada mulher (e homem) traz dentro de si quem pode dizer quais são lúcidas e quais são insanas? A linha divisória entre genialidade e loucura também é meramente burocrática, todos sabemos.
Terça-feira:
A cantora que tem os olhos da atriz Maria Luisa Mendonça entra pelo corredor tocando acordeon. O nome Edith não deve ter sido dado aleatoriamente. Que voz é essa, mon Dieu? O repertório, coisa finíssima e deliciosa. Lá pelas tantas, Rue des Cascades, de Yann Tiersen - um dos temas de Amélie Poulain - e a platéia em estado de graça. Eu, em estado que não tem nome. Ne nous quitte pas, provavelmente é o que cada um queria dizer a Edith.
Em conversa após o show constatamos uma pessoa adorável, que, a propósito, assistiu “Hysteria” há uns 10 anos. De fato, “a vida é a arte do encontro”. Neste caso, o inverso também: a vida é o encontro da arte.
O retorno de Edith a Foz já ficou acertado para a inauguração de um espaço cultural que está em vias de tornar-se realidade.
Ficam registrados os parabéns aos promotores de cada evento: ao SESC e à Associação de Cultura Franco-Brasileira e toda equipe organizadora e apoiadores do Circuito Trinacional do Ano da França no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário