Desta honorável sacada vejo, lá longe, um lugar com muitas luzes que piscam. São as luzes da praça do pedágio. Daqui enxergo, há alguns anos, aquelas luzes.
Pois bem. Eis que, fazem 5 dias, olhar para lá já não é mais gesto aleatório. Agora, quando olho lá, meus olhos se apaziguam. Porque é lá perto que vive – só agora descobri – um ser da mais alta estirpe literária. É lá que vive Carolina.
Naquele lugar, em meio a grilos e ruídos e silêncios típicos do campo, lendo e escrevendo coisas de linhagem nobre, vive uma personalidade lírica de vivacidade inquestionável. São estas palavras, atribuídas a mim no prefácio de Lobos nos Telhados, que melhor descrevem Carolina.
Sob uma carcaça de apenas 15 anos vive um ser que dá as palavras o fino trato que elas – sagradas que são - merecem. O sutil arsenal de guerra também sutil que ela tem na manga para suportar certo patético estado de coisas instaurado é a escrita. Também os livros, claro. Dostoievski, Nietzsche, Kafka, Sartre. Estes são alguns dos nomes pelos quais ela transita. (sim, o que esta criatura lerá então aos 40 anos?) Os suprimentos de sobrevivência incluem também notas musicais, claro. Ouve acordes balsâmicos como os de um tal Tchaikovsky.
A escrita é – amém-graças-a-Deus-aleluia – uma coisa que lembra Clarice, algo nesta trilha. Os textos resultam primorosos justamente porque o pano de fundo é a instância de onde ela percebe o mundo e a si mesma. E, constatando o charco e o lodo da pequeneza, como ela diz, é preciso transformar em algo a vontade ancestral de esganar ou esganar-se que nos acomete. Este algo é a literatura. É o diacho do raio da palavra.
Enquanto escrevo isto ouço os ruídos noturnos – galos, latidos de vários timbres, grilos – e reverencio Whitman: fui à floresta para sugar a essência da vida. Pois o caro Whitman tem outra seguidora, descobri apenas na última sexta-feira, na inauguração do espaço Miró Cult, lugar onde todas as sextas, ao redor da fogueira, os lobos podem uivar com dignidade.
Coisas assim – descobrir, na desolação e aridez desta lide de distribuir leite bom pra gente ruim, uma criatura como Carolina - é que fornece novo e doce oxigênio aos pulmões cansados. E confirma que nem tudo está perdido. Que ainda vale a pena preservar intactas certas escolhas. Que vale a pena esperar Godot.
Feita esta apresentação preliminar de minha nova interlocutora, na próxima semana os leitores conhecerão seus textos.
Carpe diem!
Um comentário:
Jeane passei para conhecer seu blog ele é not°10, show, espetacular desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
Um grande abraço e tudo de bom
Ass:Rodrigo Rocha
Postar um comentário