Recentemente tomei conhecimento do compositor das canções de O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain. Trata-se de Yann Tiersen e as músicas são simplesmente maravilhosas. Tem sido o meu repertório diário, ultimamente. E ouvindo as músicas, automaticamente a gente é transportado ao filme e a esta personagem que devia existir em carne e osso e em vários exemplares perto da gente.
A personagem Amèlie representa o que acaba minguando dentro de nós por conta de um cotidiano frio, mecânico, engessado e por conta de fatores outros. A invenção, a fantasia, a ternura ficam em último plano ou em plano nenhum. E eu usaria ainda outra palavra: surpresa. Esta palavra é danada de boa. Surpreender é o que falta no mercado e não anda muito em voga. O que todo mundo quer, admitamos ou não, é ser surpreendido. Amèlie cativa tanto as pessoas por isso: ela subverte a ordem artificial das coisas e se nega a adotar esse atalho. Ela opta por outro modus operandi e reinventa a noção de encantamento. Fundamental.
Se pensarmos naquelas pessoas que a gente admira e das quais a gente quer estar perto, porque nos fazem bem e nos fazem rir, nós concordaremos de imediato que o que o seu diferencial é que elas nos surpreendem. No seu jeito de ser, no modo de pensar, na maneira como nos tratam, nas suas escolhas. A surpresa é algo que sustenta sutil e infalivelmente as boas relações. E nem estamos falando de helicópteros despejando flores, mas de coisinhas subliminares e sublimes que vem à tona através de palavras e gestos coerentes.
Por isso, às vezes, quando há escassez de seres surpreendentes num raio de alguns quilômetros, o jeito é buscar a delícia da surpresa em outras trincheiras: nos filmes, nos livros, na música, na natureza. Buscando um “ponto ótimo”, como dizia e diria o personagem de Tezza em A Suavidade do Vento. A expressão se aplica muito bem ao que buscamos em meio ao odiado e temido previsível: buscamos um “ponto ótimo”, em que monstrinhos crônicos parem de nos azucrinar.
Aliás, falando em Cristóvão Tezza, está aí uma pessoa que surpreende. E os motivos vão muito além da sua condição de escritor. Ele surpreende pelo jeito tão terno, despojado, transparente. Uma pessoa-top-de-linha.
E, falando em pessoa top, ainda em tempo, vai um helicóptero tocando “Nantes” à moçoila Daniela Valiente, que esteve de cumpleaños dia 12. Olhar para o asteróide B-612 aqui na minha sala – presente dela - tem sido um ótimo ponto ótimo.
Um comentário:
Interessante e perfeito ao mesmo tempo!
Abração, garotinha!
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