domingo, 31 de julho de 2011

"GUIZOS" E OUTRAS ENCENAÇÕES DA PALAVRA


Ontem eu vi GUIZOS. Sonhei com GUIZOS. Hoje continuo ouvindo GUIZOS. Desde sempre preciso somente do silêncio e da penumbra e da palavra e de alguns porões pra viver. A palavra e o silêncio e certos escuros e alguns acordes sutis me bastam. Nos porões, além de teias e poeira e mistérios, há coisas bem imprescindíveis e lúcidas. Por isso vou permanecer nos sótãos de GUIZOS que estou bem lá, obrigada. Porque só sei o código da ARTE. Da ARTE. Da ARTE.
Por isso hoje beberei o vinho Saint Germain que ganhei ontem das cronópias Nuria e Zinha - que estavam lá, com seus guizos também - beberei este vinho porque é véspera do meu aniversário e porque preciso celebrar o alívio de saber que não estou só na minha mais lúcida e consciente esquizofrenia que é esta escolha de optar por viver na PALAVRA, pela PALAVRA e da PALAVRA.
Beberei este vinho  - como em Lavoura Arcaica - para celebrar a admiração que sinto pelo texto cirúrgico de Luiz Henrique Dias, pela atuação hipnótica de Gabriel Pasini, pelos bichos sonoros de Natacha Pastore e pela dona do fuzil escuro/claro Gabriela Keller. Celebrarei esta certeza e necessidade que sinto de escrever algo pra ser encenado por esta Companhia ou que eu mesma me "encene", ou ambos, ou, ou, ou. Beberei este vinho pra confirmar minha vontade e meu projeto e minha CONDIÇÃO EXISTENCIAL sine qua non que é viver na ARTE, pela ARTE e DA ARTE. (destaque especial para o "DA", porque, embora eu goste do escuro, às vezes é preciso pagar a conta de luz).
Servirei deste mesmo vinho na noite em que lançarei meu Cronópio Godot, nos próximos dias, e onde farei algumas homenagens a cronópios mortos e vivos – eventualmente a alguns em coma - a alguns escuros e alguns silêncios, algumas facas, alguns ópios, algumas dramaturgias, alguns Vladimires e Estragons, algumas Clarices e suas baratas. Algumas demarcações de território. Algumas trincheiras. Algumas alquimias. In vino veritas.

Jeane Hanauer