O budismo é uma filosofia extraordinária de auto-gestão e seus fundamentos são absolutamente pertinentes, como demonstrou o reconhecido físico Fritjof Capra em O Tao da Física, onde faz um surpreendente paralelo entre a física moderna e o misticismo oriental. O livro é um divisor de águas.
Selecionei as passagens mais instigantes de outras leituras feitas sobre o budismo. Transcrevo algumas para os leitores ficarem “com a pulga atrás da orelha”. Estas de hoje e outras podem ser lidas em http://www.samsara.blog.br. Na próxima semana, algo sobre o taoísmo.
"Costuma acontecer bastante: em qualquer coisa que estejamos fazendo - sentando, andando, levantando ou deitando -- a mente frequentemente é desconectada da realidade imediata e, no lugar disso, fica absorvida em conceitualização compulsiva sobre o futuro ou o passado.
Enquanto estamos andando, pensamos sobre a chegada, e quando chegamos, pensamos na partida. Quando estamos comendo, pensamos sobre a louça e quando lavamos a louça, pensamos em ver televisão.
Essa é uma maneira bizarra de manter a mente. Não estamos conectados com a situação presente, mas estamos sempre pensando em outra coisa. Com muita frequência somos consumidos por ansiedade e desejo, arrependimentos sobre o passado e antecipação do futuro, perdendo completamente a perfeita simplicidade do momento."
"Não é necessário remover nada do que existe. De fato, não há nada que possamos retirar da existência. Se tirássemos uma coisa, teríamos que tirar tudo, por que o um contém o todo. Quando entramos na cozinha num dia de inverno nos sentimos aquecidos e confortáveis. Nossa sensação de calor e conforto não é devida ao fogão que está na cozinha, ela se deve ao frio que está lá fora. Se o tempo fora não estivesse frio, não teríamos a sensação de conforto ao entrar na cozinha quente."
"Me lembro de uma curta conversa entre o Buda e um filósofo da época. "Tenho ouvido dizer que o budismo é uma doutrina de iluminação. Qual é seu método? O que vocês praticam todo dia?"
"Nós andamos, comemos, nos lavamos, sentamos."
"O que há de tão especial nisso? Todo mundo anda, come, se lava e senta... "
"Senhor, quando andamos, estamos conscientes de que estamos andando; quando comemos estamos conscientes de que estamos comendo... Quando os outros andam, comem, se lavam ou sentam, geralmente não estão atentos para o que estão fazendo."
"No caso do arco-e-flecha, o atirador e o alvo não são mais dois objetos opostos, mas integram uma realidade. ... O zen é a mente do dia-a-dia, como foi proclamado por Baso (Ma-tsu, falecido em 788 d.C.). Essa mente cotidiana não é nada mais que dormir quando cansado, comer quando se está com fome. Tão logo refletimos, deliberamos e conceitualizamos, a inconsciência original é perdida e um pensamento interfere. Nós não mais comemos ao comer, não mais dormimos ao dormir. A flecha deixou o arco mas não voa direto ao alvo, tampouco o alvo permanece onde está. O cálculo que é um erro de cálculo se configura."
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