sexta-feira, 12 de março de 2010

Dia Nacional da Poesia

Dia 14 de março se celebra o dia Nacional da Poesia. Nas vezes em que a oportunidade de falar sobre o tema se apresenta, eu adoto a definição de Clarice e digo também que “a palavra é minha quarta dimensão”. E ainda: “Minha liberdade é escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo”
Sendo assim, a poesia é uma instância, uma condição existencial. Ao menos para mim a coisa vai por aí.
Entre os nomes que admiro, está Raduan Nassar. Lavoura Arcaica tem uma linguagem a anos-luz além do que se pode descrever como poético. Vai uma passagem:

e, circunstancialmente, entre posturas mais urgentes, cada um deve sentar-se num banco, plantar bem um dos pés no chão, fincar o cotovelo do braço no joelho, e, depois, na altura do queixo, apoiar a cabeça no dorso da mão, e com os olhos amenos assistir ao movimento do sol e das chuvas e dos ventos, e com os mesmos olhos amenos assistir à manipulação misteriosa de outras ferramentas que o tempo habilmente emprega em suas transformações, não questionando jamais sobre os seus desígnios insondáveis, sinuosos, como não se questionam nos puros planos das planícies as trilhas tortuosas, debaixo dos cascos, traçadas no pasto pelos rebanhos: que o gado sempre vai ao poço.

Prosseguindo com minha garimpagem, segue algo que Elis fala na abertura de uma das músicas:

Agora o braço não é mais o braço erguido num grito de gol.
Agora o braço é uma linha, um traço, um rastro espelhado e brilhante.
E todas as figuras são assim: desenhos de luz,
agrupamentos de pontos de partículas,
um quadro de impulsos,
um processamento de sinais.
E assim - dizem - recontam a vida.
Agora retiram de mim a cobertura da carne,
escorrem todo o sangue, afinam os ossos
em fios luminosos e aí estou, pelo salão, pelas casas, pelas cidades,
parecida comigo.
Um rascunho.
Uma forma nebulosa, feita de luz e sombra.
Como uma estrela.
Agora eu sou uma estrela.


E, claro, Clarice, cuja poesia é “inclassificável”, ao que consta:

Eu, alquimista de mim mesmo. Sou um homem que se devora? Não, é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos meus modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus.
Vivo em escuridão da alma, e o coração pulsando, sôfrego pelas futuras batidas que não podem parar.

4 comentários:

Ahab disse...

Falando em poesia. A Feira do livro está retornando a minha cidade. Quem sabe eu não retorno a minha coleção sobre as Ciências Ocultas.

Direto do Rio.
Beijos.

CARLOS MORANDI disse...

Caríssima Jeane, bom dia!
Visitando seu espaço, lendo susa palavras, bom... você não escreve, apenas; você desenha esboços e depois acrescenta as cores; você esculpe e depois alisa as palavras. "Artesanalmente", passo a passo, picel a pincel, cinzel a cinzel, ou tudo de uma só vez, como um raio translúcido que não corta os céus do seu firmamento, mas sim, pousa como asas divinas que precisam se aninhar humilde e brilhantemente numa folha de papel.
Assim, de folha em folha você vai criando a copa de sua árvore mágica. Sim, mágica! Afinal, o que é a inspiração e a poesia senão magia? Algo transcendental? Sim, há uma dimensão, entre as tantas do universo, que somente os poetas conseguem alcançar. E a alcançam justamente porque essa dimensão lhes pertence... desde sempre...
Meu Eu saúda teu Eu.
Namastê!
Paz Profunda!

CARLOS MORANDI disse...

Caríssima Jeane, bom dia!
Visitando seu espaço, lendo suas palavras, bom... você não escreve, “apenas”; você desenha esboços e depois acrescenta as cores; você esculpe e depois alisa as palavras. "Artesanalmente", passo a passo, pincel a pincel, cinzel a cinzel, ou tudo de uma só vez, como um raio translúcido que não corta os céus do seu firmamento, mas sim, pousa como asas divinas que precisam se aninhar humilde e brilhantemente numa folha de papel.
Assim, de folha em folha você vai criando a copa de sua árvore mágica. Sim, mágica! Afinal, o que é a inspiração e a poesia senão magia? Algo transcendental? Sim, há uma dimensão, entre as tantas do universo, que somente os poetas conseguem alcançar. E a alcançam justamente porque essa dimensão lhes pertence...
Meu Eu saúda teu Eu.
Namastê!
Paz Profunda!

Jeane Hanauer disse...

Carlos, querido!
quanta honra ter você aqui dizendo as coisas mais certeiras e sensíveis que já ouvi neste blog.
Sim, se trata de uma DIMENSÃO, uma faixa vibratória onde os poetas flutuam. Algo assim.
Paz profunda, irmão!
Meu eu saúda o teu eu!